FELICIDADE, DESEJO E EMOÇÃO

FELICIDADE, DESEJO E EMOÇÃO

Jéssica Marques Vicente Rebechi
29/Maio/2021.

A felicidade é muito desejada por todos os seres humanos. Com tantas propagandas que prometem felicidade imediata e ao mesmo tempo infinita, fica difícil entender do que se trata, de onde ela vem e porque almejamos tanto alcançá-la.

            Será que a felicidade é algo natural? Será que ela vem de nossos desejos? Ou será que ela é somente uma emoção?

            No dicionário de Filosofia ABBAGNANO (2018, P. 505), mostra que o conceito de felicidade “é algo humano e mundano. Nasceu na Grécia antiga, onde Tales de Mileto julgava feliz “quem tem corpo são e forte, boa sorte e alma bem formada.” Podemos entender que se estamos bem de saúde, se temos boa sorte para conseguir o que queremos e nos relacionamos bem socialmente, então somos felizes. Pensando assim parece ser simples e fácil ser feliz, mas e o desejo?

            Bom, se a felicidade vier do desejo de se conseguir cada vez mais prazer em tudo que se quer obter, então a felicidade não pode ser considerada como uma coisa que se mantém continuamente sem interrupções, ao contrário disso, ela será algo que estaremos sempre buscando e ao conquistá-la, terá um prazo de validade curto, nos impulsionando a ir atrás de mais prazeres em um looping infinito de insaciedade, conforme a descrição de ABBAGNANO (2018, P.507): “[...] o desejoso humano de felicidade completa está destinado a chocar-se contra “o silêncio irracional do mundo” (Camus) e portanto a permanecer insaciado.”

            Refletindo sobre a insaciedade, podemos chegar à conclusão de que essa corrida em busca da felicidade plena por meio do desejo, não faz o menor sentido e vai nos levar direto ao abismo da insatisfação. Mas nós seres humanos, desejamos muitas coisas e por vezes nos deixamos levar por essa sensação de falta que parece não se satisfazer facilmente.

            A felicidade pode ser considerada uma emoção? Antes de obtermos uma resposta, vamos analisar o significado de emoção que o dicionário de filosofia nos traz:

“Em geral entende-se por esse nome qualquer estado, movimento ou condição que provoque no animal ou no homem a percepção de valor (alcance ou importância) que determinada situação tem para sua vida, suas necessidades, seus interesses. Nesse sentido, no dizer de Aristóteles [...] a emoção é toda afeição da alma, acompanhada pelo prazer ou pela dor, sendo o prazer e a dor a percepção do valor que o fato ou a situação a que se refere a afeição tem para vida ou para as necessidades do animal.” (ABBAGNANO, 2018, P. 363)

Se a emoção é esse sentir imediato diante de alguma situação, então, podemos dizer que a felicidade se trata de um sentimento, pois é o que sentimos quando conseguimos alguma coisa que há muito estávamos desejosos. Não podemos esquecer que nem sempre o sentimento vem isolado, muitas vezes ficamos felizes e logo em seguida podemos nos ver angustiados com nossa aquisição ou escolhas.

            Existe também um sentido de relatividade para felicidade de que, “aqueles para quem a felicidade coincide com uma situação de satisfação parcial de exigências humanas que são consideradas fundamentais ou imprescindíveis.” (ABBAGNANO, 2018, P. 507 – grifo do autor) Ou seja, a satisfação de nossas necessidades básicas também nos deixa com um sentimento de felicidade, porém é um sentimento mais fraco do que esse que vimos acima. Ele não consiste em preenchimento de lugares vazios da própria existência, pelo contrário, ele se satisfaz em atender seus desejos necessários e naturais.

Portanto, o que pudemos ver brevemente aqui, é que nossas emoções estão ligadas com aquilo que nos dá prazer e com a dor. Ao satisfazer nosso desejo provavelmente ficaremos muito felizes, e dependendo da situação poderemos experimentar uma mistura de sentimentos. Essa oscilação de nossas emoções, nos mostra que é humanamente impossível ser feliz o tempo todo e que buscá-la incessantemente pode nos tornar seres humanos totalmente insaciáveis e frustrados, nos distanciando daquilo que realmente importa, a nossa existência.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 6ª Ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2018.



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