FELICIDADE, DESEJO E EMOÇÃO
FELICIDADE, DESEJO E EMOÇÃO
A
felicidade é muito desejada por todos os seres humanos. Com tantas propagandas
que prometem felicidade imediata e ao mesmo tempo infinita, fica difícil
entender do que se trata, de onde ela vem e porque almejamos tanto alcançá-la.
Será que a felicidade é algo natural? Será que ela vem de
nossos desejos? Ou será que ela é somente uma emoção?
No dicionário de Filosofia ABBAGNANO (2018, P. 505),
mostra que o conceito de felicidade “é algo humano e mundano. Nasceu na Grécia
antiga, onde Tales de Mileto julgava feliz “quem tem corpo são e forte, boa
sorte e alma bem formada.” Podemos entender que se estamos bem de saúde, se
temos boa sorte para conseguir o que queremos e nos relacionamos bem
socialmente, então somos felizes. Pensando assim parece ser simples e fácil ser
feliz, mas e o desejo?
Bom, se a felicidade vier do desejo de se conseguir cada
vez mais prazer em tudo que se quer obter, então a felicidade não pode ser
considerada como uma coisa que se mantém continuamente sem interrupções, ao
contrário disso, ela será algo que estaremos sempre buscando e ao conquistá-la,
terá um prazo de validade curto, nos impulsionando a ir atrás de mais prazeres
em um looping infinito de insaciedade, conforme a descrição de ABBAGNANO
(2018, P.507): “[...] o desejoso humano de felicidade completa está destinado a
chocar-se contra “o silêncio irracional do mundo” (Camus) e portanto a
permanecer insaciado.”
Refletindo sobre a insaciedade, podemos chegar à
conclusão de que essa corrida em busca da felicidade plena por meio do desejo,
não faz o menor sentido e vai nos levar direto ao abismo da insatisfação. Mas
nós seres humanos, desejamos muitas coisas e por vezes nos deixamos levar por
essa sensação de falta que parece não se satisfazer facilmente.
A felicidade pode ser considerada uma emoção? Antes de obtermos
uma resposta, vamos analisar o significado de emoção que o dicionário de
filosofia nos traz:
“Em
geral entende-se por esse nome qualquer estado, movimento ou condição que
provoque no animal ou no homem a percepção de valor (alcance ou importância)
que determinada situação tem para sua vida, suas necessidades, seus interesses.
Nesse sentido, no dizer de Aristóteles [...] a emoção é toda afeição da alma,
acompanhada pelo prazer ou pela dor, sendo o prazer e a dor a percepção do
valor que o fato ou a situação a que se refere a afeição tem para vida ou para
as necessidades do animal.” (ABBAGNANO, 2018, P. 363)
Se
a emoção é esse sentir imediato diante de alguma situação, então, podemos dizer
que a felicidade se trata de um sentimento, pois é o que sentimos quando
conseguimos alguma coisa que há muito estávamos desejosos. Não podemos esquecer
que nem sempre o sentimento vem isolado, muitas vezes ficamos felizes e logo em
seguida podemos nos ver angustiados com nossa aquisição ou escolhas.
Existe também um sentido de relatividade para felicidade
de que, “aqueles para quem a felicidade coincide com uma situação de satisfação
parcial de exigências humanas que são consideradas fundamentais ou
imprescindíveis.” (ABBAGNANO, 2018, P. 507 – grifo do autor) Ou seja, a
satisfação de nossas necessidades básicas também nos deixa com um sentimento de
felicidade, porém é um sentimento mais fraco do que esse que vimos acima. Ele
não consiste em preenchimento de lugares vazios da própria existência, pelo
contrário, ele se satisfaz em atender seus desejos necessários e naturais.
Portanto,
o que pudemos ver brevemente aqui, é que nossas emoções estão ligadas com
aquilo que nos dá prazer e com a dor. Ao satisfazer nosso desejo provavelmente
ficaremos muito felizes, e dependendo da situação poderemos experimentar uma
mistura de sentimentos. Essa oscilação de nossas emoções, nos mostra que é
humanamente impossível ser feliz o tempo todo e que buscá-la incessantemente pode
nos tornar seres humanos totalmente insaciáveis e frustrados, nos distanciando
daquilo que realmente importa, a nossa existência.


